Ler a História
Estava ali um galinheiro que dava gosto ver. Limpo e asseado e com as galinhas mais vistosas. À volta do galinheiro, a terra era boa, era fértil, dava belos legumes, árvores de fruto carregadas de fruta deliciosa. Na terra, as minhocas vivam em paz, porque agora as galinhas não esgravatavam tudo para as apanhar. As galinhas modernas comiam ração, petiscos deliciosos como baguinhos de milho e outras coisas que elas comem. Não sei bem o quê, nunca fui galinha, hei de reparar nisso. A mais bela das galinhas gostava muito de ser a mais bela das galinhas. Via-se nos reflexos de água como se estivesse ao espelho e suspirava:
Como sou linda. Como o meu bico ficaria bem com um batom que o alindasse. Que não seria deste par de olhos se aparasse as sobrancelhas. Como seriam estas pernas depois de lhe arrancar algumas penas, para mostrá-las e toda a sua beleza.
Um dia, fizeram um filme ali mesmo. Puseram câmaras e luzes, atrizes e atores pelo campo fora, e todos falavam e agiam de forma diferente do que era a sua forma habitual, pois estavam a representar. A galinha ficou toda entusiasmada e pulou para cima de uma cerca e pôs-se a dar nas vistas: aqui, aqui, sou muito bela, bonita, talentosa, contratem-me. Aposto que fazia o meu papel melhor de que todos vocês. Ninguém a ouvia cacarejar, mas num momento de silêncio o realizador, a figura principal do filme, ouviu-a, viu-a e apontou para ela:
– Tragam-me aquele animal.
– Eu não sou um animal, sou a mais bela das galinhas.
Lá a levaram. O realizador olhou-a dos pés ao alto da cabeça:
– Pintem-na de preto e ponham-lhe uma crista vermelha.
– Ai de mim, entristeceu-me a galinha.
– Estou mesmo a precisar de um galo neste filme. E este galinheiro não tem um único galo!
Zás. Pintada de preto, com crista vermelha, nasceu uma estrela.
Assim a galinha se tornou artista e foi o galo mais visto no mundo inteiro.
Alexandre Honrado
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