Ler a História
– Música, alegria, uma fatia de bolo e talvez uma sangria!
O Elfo parecia contentíssimo e não parava de tagarelar, de cantar, de falar com os seus botões:
– Nada há como a época do Natal. Os dias parece melhores, as luzes brilham mais, os sons são perfeitos.
– Aiiiii!
– Ai que som tão imperfeito!
– Ando para aqui que pareço um avozinho vencido pelos anos!
– Então, Pai Natal, como é que é?
– Queixo-me. Das costas, dos pés, dos joelhos, só me apetece ficar sentado, num canto quentinho, a comer umas bolachinhas. Estou que nem um avozinho reformado.
– Mas tu és o avozinho. E até os avozinhos reformados têm genica e faze coisas maravilhosas. Como, aliás, é a tua tarefa!
O Pai Natal abriu muito os olhos e acabou por concordar com o Elfo.
– Tens razão. Sou uma espécie de avozinho das crianças que acreditam em mim.
– Isso é que é falar. Isso…inspira-me. Vou cantar.
– Elfo Baixinho! Caladinho! Não me enerves. Não me irrites! Não me estragues o espírito natalício. Estou pelos cabelos e pela barbas com essas tuas cantorias!
– Mas eu queria tanto, tanto, cantar. Gosto. E tenho de treinar. Vou inscrever-me no ETT, o Elfos Têm Talento. É o melhor programa de TV para Elfos talentosos e alguns gnomos armados em Elfos. Quando me ponho a cantar, ninguém reconhece a minha voz.
(CANTA)
– Elfo Baixinho! Caladinho! Pelo enos podias cantar uma canção de Natal. A todos um bom natal etecetra e tal, etecetra e tal.. Ou então, Tudo o que eu quero para o Natal és tu. Tu, se não cantares.
– Estás a limitar a minha liberdade de expressão.
– Estou a defender o Mundo. Tu e a tua voz deixa pegadas ecológicas sonoras muito difíceis de limpar.
E agora, vamos ao trabalho.
– Estou farto de embrulhos. E de embrulhar prendas. E de teres reduzido o pessoal. Agora em vez de Elfos tem um Elfo para todo o serviço. Bem ser que sou o melhor…
– O melhor a fazer barulho!
– O melhor! O mais barato. É uma injustiça.
– Injusto é o mundo que está em crise! Nem todos têm trabalho, nem todos têm presentes.
Ninguém liga ao pai natal, porque há coisas muito mais importantes.
– Podemos mudar isso!
– Mudar? O Natal? Qual é a tua ideia? Passamos para o verão? Achas que é essa a solução?
– Podemos modernizar isto. E vez de presentes podíamos oferecer…
– O quê???
– Canções. Podíamos oferecer canções.
(CANTA)
– Elfo Baixinho! Caladinho! Por favor. Estou com uma enorme, gigantesca, insuportável dor de cabeça.
– É por causa desse barrete. Dois números abaixo e enterrado nessa cabeçorra cabeluda!
E se mudasses para um boné? Com a pala para trás, estás a ver, man? À maneira!
– Estás bem? Onde é que vais buscar tantas asneiras para dizer em tão pouco tempo?
– Rapavas o cabelo, que está na moda rapá-los. Assim pareces uma senhora idosa.
– Elfo Baixinho, estou a perder a paciência!
– É dos carecas todos gostam mais. Isso inspira-me.
(CANTA)
– Elfo Baixinho! Caladinho!
– Olha bem para ti. Trabalhas sentado. Ou é a embrulhar brinquedos ou a passear de trenó.
E essa barriga! Isso já não se usa! Agora há caminhadas, escaladas, ginásios, corridas, surf, bailaricos.
– Não querias mais nada?
– Queria que o trenó não rangesse como se se fosse partir, mal tu entras lá para dentro. As renas estão sempre a protestar.
– Elfo Baixinho!!! Vou despedir-te com justa causa… E janeiro.
– Faço greve antes disso. Tens de embrulhar tudo sozinho e carregar sozinho os embrulhos, e descer pela chaminé sem a minha ajuda, porque sozinho não consegues lá entrar, ficar apertado e…Toma e embrulha.
– Cala-te. Deves julgar que és muito importante.
– Isso…inspira-me.
(CANTA)
– Não aguento este Elfo!
– Só porque te recomendo dieta? Alimentação cuidada? Exercício, movimento, saúde?
– Porque és falador, linguareiro e muito cansativo.
– Também dava um toque nessa roupa. Vermelho e redondo pareces um semáforo a mandar parar o trânsito. Vamos pensar e tons azuis ou laranja ou amarelo?
– Elfo! Deixa-te de modas…
– E essas botas? Há ténis tão confortáveis e tão giros!
– Vai dar uma volta e volta só para o ano!
– E quem é que dava uma bela prenda ao Pai Natal, não me dizes?
– Uma prenda? Sabes que dou prendas, não as recebo.
– Mas gostavas, não gostavas? Tenho uma prenda preparada que nem precisa de embrulho. Escuta.
(CANTA)
– Socorro, tire-me desta história.
– Não podes. És o pai Natal! Se ti o Natal perde metade da piada. Digamos que és tu quem lhe dá peso…
– Elfo, eu já ando cansado e tristonho, não abuses.
– Tenho a solução. Uma canção de Natal para cantar de janeiro a dezembro.
– Bom, se insistes.
– Insisto. Bom natal e feliz ano novo.
– É isso mesmo, o que nós precisamos é de um ano novo feliz.
ELFO CANTA
Fim.
Alexandre Honrado
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