Ler a História
Ela vestiu a sua melhor saia, a sua blusa mais bonita. E estava linda como uma noite de verão.
Ele não ficava atrás, quero dizer, tinha o seu melhor fato, a sua camisa mais bonita. E estava lindo como o luar de Junho.
Nos dois, os sapatos tinham sido escolhidos com muito cuidado: iam dançar a noite toda.
Encontraram-se e ela notou que ele cheirava a sardinhas e ele notou que ela cheirava a pimentos, só depois perceberam que não era o cheiro deles, mas o que andava pelo ar.
Noite de festa cheia de música e de petiscos.
As ruas cheias de gente e o ar cheio de alegria.
Arraial. Chama-se assim a festa popular desses dias de junho.
Há quem diga que arraial é desordem e confusão, mas o que interessa isso quando se está assim tão feliz?
Ela sentiu umas picadas pelo corpo e saltitou.
Ele sentiu umas picadas no corpo e saltitou com ela.
Dançaram a noite toda e era uma espécie de namoro com acordeão, violas, gaitinhas, ferrinhos, tambores a acompanhá-los. E até havia umas vozes desafinadas, diz-se de “cana rachada”, mas estavam tão felizes que nem davam por elas. Nem pelas vozes nem por nada.
Toca a dançar, a bailar, a trocar os olhos em olhares apaixonados.
Ela nunca suspeitou que uma pulga tinha saltado do chão para dentro da sua camisa linda. Nem ele sabia que uma pulga largara um cão para andar à boleia da sua melhor vestimenta.
Tinham uma tal alegria a dançar, que até as pulgas dançavam com eles.
Ou era tudo isto uma coisa que eu imaginei aos vê-los pela rua fora, passando pelas marchas populares e pelo povo feliz e pelos enfeites das ruas que à vezes são assim, uma festa enorme para cada um de nós – e para todos nós, que adoramos música e saltinhos de pulga.
Alexandre Honrado
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