Ler a História
O Policarpo queria juntar dinheiro.
Antes de juntar dinheiro, pensou o Policarpo, preciso de ganhar dinheiro.
Para que queria o Policarpo o dinheiro?
Tinha grande planos, mas nesses grandes planos tinha muita coisa, mas não tinha dinheiro.
A história começa atrás. Quero dizer, no dia em que o Policarpo, que vivia muito longe da casa de seus pais, teve saudades e decidiu: vou visitá-los.
Um dia o Policarpo tinha dito aos pais: mamãzinha paizão vou correr mundo.
E foi. E afastou-se.
Afastou-se tanto que para voltar atrás tinha de arranjar meio de transporte.
Para a viagem precisava de dinheiro. E começou a vender umas frutas que ia apanhar ao campo. Vendia um caixote de fruta, comia outro, ou melhor, a fruta que o outro tinha. E demorou mais de mil caixotes até conseguir juntar algum dinheiro.
Com esse dinheiro comprou um carro, que só andava nas descidas.
Trocou-o por um burro que só andava nas subidas.
Trocou-o por uma bicicleta que guinchava na estrada e gemia nos becos.
Trocou-a por um triciclo que era pequeno de mais e depois ao triciclo trocou-o por um skate que não tinha rodas que trocou por uma carrinha sem volante nem pedais. Depois foi a pé. E depois ao pé coxinho.
Mamãzinha, paizão, não conhecem o vosso filhinho?
Com esses pés descalços a sair da bota rota que sai da calça rota que sai da camisa rota que deixa sair um pé descalço e uma cara queimados do sol? Pareces o filho doutro pai doutra mãe.
Deram um abracinho, a medo.
Ah, o cheirinho é o mesmo.
É mesmo o nosso filhinho.
O Policarpo tomou banho e calçou-se e vestiu-se. Um dia destes, pensou, junto dinheiro e vou dar a volta ao mundo.
Alexandre Honrado
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