Ler a História
Carla Vanessa nunca gostou de chamar-se Carla e muito menos Vanessa.
Era uma jovem delicada e bonita, mas nunca quis ser delicada e menos ainda bonita.
O que mais queria na vida era ser bruxa. Já quisera ser bailarina, esteticista, enfermeira, malabarista, baterista, e agora queria ser bruxa.
Começou por dizer a toda a gente que se chamava Cassandra. Ninguém gostava de tratá-la assim, por Cassandra.
– Carlinha filha, minha querida Vanessa, não me habituo a chamar-te Cassandra. Anda para a mesa que o almoço está à espera.
– Vou ter de mudar a minha alimentação. Não sei o que comem as bruxas, mas não creio que gostem de puré de batata e essas coisas.
Carla Vanessa, agora Cassandra, andava por toda a parte a dizer que era bruxa e só ouvia:
– As bruxas não existem!
– Existem! Olhem para mim!
Olhavam e pensavam: que jovem delicada e bonita, nunca será uma bruxa, dessas das histórias.
Numa história foi a Carla Vanessa, agora Cassandra, encontrar ensinamentos. A roupa tem de ser rota e suja; com saia comprida, sapatos rotos e em bico, um chapéu muito alto na cabeça. E uma vassoura, e um caldeirão.
– Uma vassoura? Não preferes um aspirador?
Carla Vanessa agora Cassandra arranjou vassoura, mas que não voava. E um caldeirão, mas não tinha livro de receitas. Procurou na Internet alguma coisa que servisse. Arranjou ingredientes, batata, cenoura, cebola, uma pitada de sal. Não tinha asa de morcego, nem pó de baratas. Mas lá conseguiu fazer alguma coisa.
– Esta minha filha fez uma sopa deliciosa – disse o pai.
– Tem mãos de fada – disse a mãe. Carla Vanessa ficou tão triste que mudou o nome para Carla Vanessa, que afinal já era o seu. E arrumou a vassoura e o caldeirão ao pé do chapéu em bico, do vestido e dos sapatos rotos.
Alexandre Honrado
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